sábado, 26 de fevereiro de 2011

O ídolo e o tempo

Ronaldo parou! Ronaldo falou,desabafou,chorou,culpou uma possível doença pelos quilos a mais que ganhara nos últimos anos. Mas só pode fazer isso com a grandeza e a dignidade de um fenômeno porque simplesmente jogou.
E como jogou! Durante anos nos maravilhou com seu refinado toque na bola,sempre em direção ao gol.Seu drible simples e ao mesmo tempo humilhante,seu chute certeiro e plasticamente belo,seu arrancar agressivo e agraciador.
Contemporâneo da máxima captação do esporte pelos meios de comunicação e do estrondoso marketing por trás disso,Ronaldo foi e aceitou ser usado diversas vezes por algumas marcas,principalmente no começo da sua carreira quando ainda não tinha o nome tão mais forte do que tais empresas.Foi vítima de cláusulas contratuais burras como a que por exemplo quase o impediu de negociar com o Real Madrid,devido ao clube Madrileño ser patrocinado por um fornecedor esportivo diferente do que patrocinava o craque. Garoto propaganda,foi fenômeno nos campos e na mídia,jogou em times do calibre como Barcelona,Real Madrid,Inter de Milão e Milan,mas por estes nunca teve identificação do calibre da que teve com uma certa camisa amarela.
Pela seleção jogou tudo o que sabia,e ganhou tudo o que podia.Foi decisivo e campeão em uma copa do mundo,melhor jogador em outra e na última sagrou-se como maior artilheiro da competição.Virou referência para o mundo e citação obrigatória em todo o planeta quando o assunto era Brasil.Seu futebol para frente,seu carisma e sorriso inconfundíveis caracterizava nosso país por todo o mundo.
Superou mais de uma vez uma das mais graves contusões que um atleta pode sofrer,e com determinação,força de vontade e sem deixar seu sorriso ser abatido e tranformado em angústia,deu a volta por cima em uma das maiores histórias conhecidas.
Ronaldo saiu da pobreza de Bento Ribeiro,rodou o mundo.Conheceu a fama,mulheres,pratos,roupas e festas,mas nunca deixou de ser o menino suburbano que priorizava sempre o gol como máximo da diversão e do prazer.Foi três vezes melhor do mundo e ganhou dinheiro,muito dinheiro, até mesmo exacerbadamente para o que um jogador de futebol deveria ganhar.Muitos acham um absurdo um atleta ganhar tão mais do que um professor ou um juiz,e é por casos como o de Ronaldo que discordo desses muitos.Um juiz ou professor não lotam estádios e dão tamanhas alegrias para o povo,sem em nenhum momento desmerecer as mais do que importantes profissões(que logicamente,devem ser melhor remuneradas).
Mas nenhum sonho é para sempre.Como acontece com todos,o tempo passa e deixa na saudade o que achamos que irá ser eterno.A velocidade monstruosa que tinha foi diminuída.Ainda que o corpo fosse marcado por seguidas lesões,Ronaldo tinha inúmeras alternativas de jogar em alto nível.Esse leque de opções e variedades dado por Deus à muito poucos jogadores na história do futebol mundial foi dado-lhe ainda cedo.Á um sorridente e esbelto menino suburbano,que soube como poucos aproveitar a dádiva.Ultimamente esse menino andava abalado e triste com criticas,não esboçava tanto seu largo e cativante sorriso.Estava milionário e longe de ser aquele menino esbelto;era a hora de parar.

Esse leque se chama dom,e Ronaldo soube usa-lo com raríssima maestria.Muito obrigado Ronaldo.



"Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo..."

"Tente!
E não diga
Que a vitória está perdida
Se é de batalhas
Que se vive a vida
Tente outra vez!..."

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O Xi bom bom do oprimido

Dizia a música: “Analisando essa cadeia hereditária,quero me livrar desta situação precária,que o rico cada vez fica mais rico,e o pobre cada vez fica mais pobre,e o motivo todo mundo já conhece;é o que de cima sobe,e o debaixo desce.” Em seguida o refrão-chiclete : “Bom xibom xibom bom bom” sendo repetida incessantemente em meio a melodias de instrumentos de sopro,coisa típica do axé music baiano que faz sucesso principalmente no verão brasileiro.
E ao invés de que com essa letra gerasse no povo um sentimento de revolta contra as demasiadas desigualdades sociais presentes em países que sofrem do chamado capitalismo selvagem,a música se tornou símbolo máximo da passividade e alienação que são características do receptivo e amável povo brasileiro.
Dificilmente as músicas ditas de protesto ou que tratam da causa social são alcançadas pela grande massa.Medida dos poderosos midiáticos para não atiçar o povo em revolta.E assim promovem músicas dançantes de baixa qualidade que juntamente com o futebol e o assistencialismo,forma um belo espetáculo do ‘pão e circo’ romano.
A censura da ditadura continuou, está velada,o que pode ser ainda mais perigosa.O antigo grupo de Marcelo D2 e B-Negão,o Planet Hemp,foi todo preso em Brasília no final dos anos 90 por usar da liberdade de expressão,contida na constituição.Hoje D2,continua a falar da liberação da maconha,mas em poucos versos,e sendo bem menos agressivo.Hoje vai ao Faustão e mistura seu rap com o samba,formando uma levada bem gostosa e agradável.Mas hoje D2 não tem mais o caráter revolucionário que tinha tempos atrás,quando era censurado.Os Racionais Mc’s com suas letras extremamente politizadas são completamente alijados desse lucrativo processo de propagação da arte pelos donos das melhores gravadoras.O sistema não quer que a população acorde do sonífero político aplicado,e assim faz uma lavagem cerebral no povo que pode estar se sacudindo de felicidade no momento,mas a partir das imediações desse show de axé,está sendo massacrado por uma política pública elitista e de péssima qualidade.
É segregação de um lado e de outro,artistas de grandessíssima qualidade como Hermeto Pascoal e Guinga também são prejudicados pela indústria fonográfica,que faz questão de vender à grande massa um produto de baixa qualidade,que não faça pensar bastante,tanto musical quanto politicamente.
E dançamos todos essa dança,sempre conduzida pelo alienante sistema capitalista.


E ninguém ligou para o restante da letra,só para o refrão. Todos dançaram o “Bom xibom xibom bom bom” inclusive eu.